sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

2008 : Não houve inflação de demanda, houve inflação de juros"



Por Paulo Rubem

No começo da tarde desta sexta-feira, 16 de janeiro, trazemos a vocês o excelente artigo de JOÃO SICSU, Economista, Professor da UFRJ e Diretor de Política Macroeconômica do IPEA, publicado hoje no site da agência Carta Maior, www.cartamaior.com.br .

Como sugestão para leitura indicamos a recente publicação coordenada por SICSU e VIDOTTO, "Economia do Desenvolvimento: Teoria e Políticas Keynesianas", Editora Elsevier-Campus, 2008.

O artigo que reproduzimos em parte vocês encontram, na íntegra, na Carta Maior.

Na imagem que ilustra o Blog, o Professor João Sicsu.
Boa leitura.

Não houve inflação de demanda, houve inflação de juros"

A “inflação” (aumento) de juros de 2008 não tinha justificativa técnica. Para 2009, há justificativas técnicas evidentes para uma forte “deflação” (redução) dos juros. Crises não são situações para serem enfrentadas com conservadorismo que, neste momento, é sinônimo do cúmulo da moleza: “correr sozinho e chegar em segundo”. Manter juros de dois dígitos em tempo de crise é amar o risco de morrer. A análise é do economista João Sicsu.

João Sicsu

Em 2008, não houve inflação de demanda. Inflação de demanda ocorre quando a capacidade de realizar compras de uma economia é maior que a sua capacidade de produzir o que é desejado. Nessas condições, os empresários elevam os preços diante da impossibilidade de aumentar quantidades ofertadas. Cabe ser observado, contudo, que a identificação de uma situação de inflação de demanda deve ser feita de forma agregada, ou seja, olhando-se o conjunto da economia. Um fato isolado de aumento de preços por aumento de demanda não pode caracterizar uma economia contaminada por inflação de demanda. Aumento de preços em um setor de forma isolada é apenas um sinal de mercado, necessário, que atrai investimentos para aquele nicho.

O que aconteceu recentemente na economia brasileira?

(...)

A “inflação” (aumento) de juros de 2008 não tinha justificativa técnica. Para 2009, há justificativas técnicas evidentes para uma forte “deflação” (redução) dos juros. Crises não são situações para serem enfrentadas com conservadorismo que, neste momento, é sinônimo do cúmulo da moleza: “correr sozinho e chegar em segundo”. Portanto, é hora de “deflacionar” (reduzir) rapidamente os juros para que estes alcancem logo um dígito. Manter juros de dois dígitos em tempo de crise é amar o risco de morrer.

(*) João Sicsu é diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea e professor do Instituto de Economia da UFRJ.

Nota à CartaMaior

Não há dúvidas: a participação dos salários e remuneração dos autônomos têm caído como proporção do PIB. O IBGE somente publicou esses dados até 2005. São dados referentes às "contas nacionais" do País. Dados mais recentes (de 2006 a 2008) são cálculos inexatos, mas ainda assim representam uma boa aproximação da situação. A PME (pesquisa mensal de emprego do IBGE) possibilita esta aproximação. Contudo, a PME é realizada somente em seis regiões metropolitanas e não em todo o País. Cabe ser mencionado ainda que: como a PME mudou a sua metodologia somente é possível utilizá-la em série de 2002 ao dias de hoje.

A queda da proporção que as remunerações do trabalho (de assalariados e de autônomos) representam no PIB é uma questão que transcende a discussão conjuntural sobre tratamentos de controle da inflação. Este é um tema chave de um projeto de desenvolvimento do País. Esta relação cresceu entre 1985 e 1993 (exceto em 1991). De 1994 até 2005 entrou em trajetória descendente acentuada. Tal trajetória preocupante permaneceu entre 2006 e 2008, segundo dados da PME; indicando leve estancamento em 2008. Um projeto de desenvolvimento nacional deve estar profundamente centrado na possibilidade de reverter a distribuição funcional da renda entre capital e trabalho hoje estabelecida.

( No site da agência você acessa o arquivo contendo gráficos. A fonte dos dados é o IBGE.)

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