segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Com ingresso de graça população vai mais ao cinema
Por Paulo Rubem
A matéria que vamos republicar abaixo é interessante por vários aspectos.
De um lado parece confirmar que com um pouquinho de ajuda o povo vai mais ao cinema, sobretudo para assistir o cinema nacional. Também pudera, com as salas hoje concentradas nos shoppings, fica muito caro ir ao cinema, tão poucas são as opções perto de casa e tão escassos os distribuidores.
Por outro lado o caso evidencia a disputa entre o subsídio ao consumo x o subsídio à produção.
Pois é, filmões nacionais com " n" patrocínios e apoios não têm ingressos mais baratos nas salas dos shoppings.
Já tratamos disso aqui no ano passado e vamos voltar a tratar na Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal a partir de fevereiro.
Pois bem, lá vai a matéria da "Folha de São Paulo" on line de hoje.
Para um maior entendimento das questões da produção, da distribuição e da exibição do cinema nesses tempos digitais, sugerimos a leitura da Tese de Doutorado "CINEMA DIGITAL: UM NOVO CINEMA ?", de Luiz Gonzaga Assis de Luca, publicada sob a forma de livro ( comprei por R$ 9,00 na Livraria Cultura de Recife)pela Imprensa Oficial do Estado de SP em parceria com a Fundação Padre Anchieta/TV Cultura, 2004. A Teses foi defendida na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Boa leitura
Governo distribui ingressos e levanta debate sobre cinema nacional
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Aconteceu com o cinema brasileiro em 2008 o que ninguém esperava --ele se tornou uma coqueluche. Mas essa "febre" não está registrada nos dados oficiais do mercado, que apontam em sentido oposto.
Pelas contas da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Sindicato dos Distribuidores Cinematográficos --concluídas na última sexta (9)-- menos de 10% dos espectadores que pagaram ingressos nas salas do país no ano passado escolheram ver um título brasileiro.
Divulgação
Filme de Renato Aragão liderou o programa "Vá ao Cinema" em 2008
Em relação a 2007, a queda de público do filme nacional foi de 15,5% --os longas brasileiros atraíram 8,7 milhões de espectadores em 2008, contra 10,3 milhões, no ano anterior.
No entanto, enquanto a bilheteria oficial afundava, em cem cidades do interior paulista, filmes brasileiros foram vistos por 1,9 milhão de espectadores. De graça.
Quem pagou o ingresso desse público (a R$ 3 cada um) foi a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, por meio do programa "Vá ao Cinema".
O resultado dessa promoção não só deve mudar o cálculo oficial da bilheteria no Brasil em 2008. Ele também acende o debate sobre a pertinência da subvenção ao consumo de produtos culturais e adiciona elementos à discussão das razões do aparente desinteresse do público pelo filme nacional.
Tese comprovada
"Esse número comprova a tese de que as pessoas gostam de cinema brasileiro e não vão porque é caro. [A partir dele] Vamos adotar furiosamente a tese de que se tem que subsidiar o consumo, não a produção", diz o distribuidor Rodrigo Saturnino Braga (Columbia), cujo lançamento "O Guerreiro Didi e a Ninja Lili", estrelado por Renato Aragão, lidera a preferência do público do "Vá ao Cinema".
Na época da estreia de seu filme, Aragão, comediante que foi invencível nas bilheterias do país nos anos 1970, disse à Folha: "O ingresso atualmente é [o equivalente] a quase U$ 10 (R$ 22), quando já foi US$ 1,5 (R$ 3,4). Isso afastou os meus filmes do povo. O meu grande público não vai mais ao cinema, porque não tem poder aquisitivo para isso".
O que mais impressiona Saturnino Braga é o índice de 76% de aproveitamento dos ingressos distribuídos pelo governo paulista. Segundo André Sturm, coordenador da Unidade de Fomento da Secretaria Estadual de Cultura, foram distribuídos 2,5 milhões de ingressos, dos quais 1,9 milhão foram efetivamente utilizados.
"As pessoas foram assistir ao filme, quando poderiam ter ficado em casa, vendo novela", diz Saturnino Braga. Ele argumenta que receber ingresso para o cinema não é o mesmo que ganhar "o 'tíquete-leite'; [o ingresso] é algo que você pode jogar fora, perder, não ir".
Para os diretores, a adesão do público à promoção é uma boa notícia, pois enfraquece a versão de que o modesto desempenho do filme brasileiro nas bilheterias relaciona-se ao fato de as produções serem ruins.
Mas não é consenso no mercado cinematográfico a ideia de que iniciativas de subvenção ao consumo possam significar um impulso mais eficaz à indústria do que o subsídio à produção de longas-metragens, que soma ao menos R$ 1,5 bilhão (em valores de 1995) no período de 1995 a 2005, segundo dados divulgados pela Ancine.
Com dois títulos na lista dos dez mais vistos pelo público do "Vá ao Cinema" --"Pequenas Histórias", de Helvécio Ratton (121,7 mil espectadores), e "Juízo", de Maria Augusta Ramos (56,3 mil)--, a coordenadora de distribuição do selo Filmes do Estação, Angélica de Oliveira, diz: "É lindo, maravilhoso, ótimo para o cinema nacional que as pessoas vejam os filmes assim, mas é filantropia".
Ela é reticente quanto a prováveis lastros comerciais da promoção: "Nunca vi dinheiro desse público e não tenho garantia de que ele irá ver os próximos filmes que eu lançar dos mesmos diretores. É um programa específico, para uma classe específica, que não vê, de fato, filme nacional como público pagante", afirma.
Em novembro passado, ciente do declínio do filme brasileiro na bilheteria regular, a Ancine investiu R$ 2 milhões em subvenção de ingressos para títulos nacionais. Mário Diamante, diretor da agência, diz que a campanha partiu da "tese de que, assim como outras indústrias têm aumentado seu volume de vendas com a oferta de produtos e serviços mais baratos, a experiência poderia valer também para o cinema".
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