quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

EDSON MORORÓ : Empresário ousado e nacionalista


















Por Paulo Rubem

A morte do empresário Edson Moura Mororó, ocorrida hoje pela manhã, provocou inúmeras manifestações de reconhecimento ao seu espírito empreendedor. Todas justas e importantes para que as novas gerações de empresários, de economistas e de trabalhadores percebam o quanto uma indústria de base local é importante para o desenvolvimento de um País.

Vou registrar aqui uma passagem inesquecível na trajetória de bom debatedor que era Dr. Edson, em episódio que foi não abordado em nenhum dos depoimentos lidos na imprensa hoje sobre seu falecimento, em relação às questões políticas e econômicas.

Quando fui deputado estadual, entre 1999 e 2002, certa vez promovi na Assembléia Legislativa um Seminário sobre o Desenvolvimento de Pernambuco. Dr. Edson foi convidado e lá compareceu para expor suas opiniões. Em dado momento registrou que em sua vida tinha laços familiares com políticos militantes que abraçaram as causas dos partidos que tinham dado sustentação ao regime militar desde 1964, como a ARENA e o PDS e que mantinha certo afastamento dos temas polêmicos em relação à política.

Entretanto,após ter sofrido na pele um processo de tentativa de "dumping" por parte de uma grande multinacional automobilística, a GM, através das baterias DELCO, passara a perceber melhor e a defender as teses consideradas "comunistas" anteriormente, de defesa do nacionalismo e da indústria nacional contra as multinacionais. A partir dali Dr. Edson passaria a ver assuntos dessa natureza de outra maneira.

Em outra ocasião, em artigo publicado, parece-me que no Jornal do Commercio, Dr. Edson admitiu defender que o País deveria suspender por um período o pagamento da dívida externa( chegou a citar as decisões de Lenin, após 1917, na ex-União Soviética) e a partir daí investir uns US$ 40 bilhões nas atividades industriais.

Mais do que um empresário que veio de baixo, Dr. Edson foi um homem ousado, provou que o conhecimento técnico aliado à uma perspectiva criadora e corajosa poderiam contribuir para a construção de um polo de desenvolvimento que fez o caminho inverso, saindo do agreste de pernambuco para o sudeste, para o sul e para outros países do mundo com seus produtos.

Num momento em que vivemos as consequências de uma forte crise especulativa internacional, onde ganhar dinheiro virou sinônimo de aposta na especulação e, no caso brasileiro, na dívida do tesouro nacional e do estado, Dr. Edson foi até o fim da vida batalhando. Não se desfez de seus negócios, como muitos, para aplicar o possível apurado nos elevados juros praticados por um Banco Central que de um lado busca proteger a moeda da inflação mas que do outro acaba com a poupança nacional e o investimento impondo uma transferência de R$ 1,267 trilhão de juros do tesouro nacional para os juros da dívida pública interna e externa entre 2000 e 2007, mais do que o dobro dos gastos federais com saúde,educação e investimentos no período. Com esses recursos, quantas fábricas não teriam sido financiadas, como as Baterias Moura, pelo país a fora ?

Por duas vezes Dr. Edson contribuiu com campanhas eleitorais das quais participei, sempre disposto a ajudar parlamentares e candidaturas que tivessem uma visão de defesa da economia e da soberania nacionais.

Segundo texto publicado na edição de 20 de outubro de 1999 da revista Exame-Fonte www.planetajota.jr.br, Site de Jomar Morais, de Belo Jardim , " um nó crucial para a Moura, no entanto, dificilmente será desatado enquanto Edson der as cartas na empresa: a necessidade de encontrar parceiros capitalistas que permitam à companhia fazer lances mais audaciosos no mercado global. A hipótese já foi levantada em reuniões internas por Paulo Sales e até por Edinho. Em vão.

Nacionalista e crítico do capitalismo global, o velho Edson rebate com o jargão esquerdista de que a globalização é o novo nome do imperialismo americano e põe em dúvida o resultado das associações. "As multinacionais têm dinheiro, mas não têm eficiência", afirma. "Concorremos com três e vamos muito bem". A Moura tem mesmo gás para seguir sozinha? Só o tempo dirá"

( Paulo Sales é diretor financeiro da empresa, casado com uma filha do empresário, Edinho, Diretor Comercial, é um dos filhos de Dr. Edson ).

Dr. Edson, como era chamado pelos mais de 2 mil funcionários do Grupo
Moura, fundou a fábrica de baterias há 51, em parceria com sua
mulher, Conceição Viana Moura. Em 1957, o químico industrial lançou-se
ao desafio de produzir baterias de automóveis num município onde
havia apenas um carro e o setor de autopeças no País era incipiente.
De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes
para Veículos Automotores (Sindipeças) apenas 24,7% das empresas da
área foram fundadas até 1960. A Baterias Moura nasceu num quintal de
uma casa no Agreste pernambucano.

(Esse último parágrafo, com dados da Assessoria de Comunicação da Empresa Baterias Moura ).

Dr. Edson, descanse em paz. Sua ousadia será lembrada para sempre !!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr. Édson foi sem dúvida, um dos maiores exemplos de perseverança e vitória!
Deixará em cada um de nós (daqui de sua cidade - Belo Jardim) uma esperança e uma saudade imensa.

A Moura é Dr. Édson!
E Dr. Édson é a Moura!


Eternas saudades..



Aline Lucena