O blog agradece ao Pierre Lucena e ao Marco Bahe a publicação do artigo de nossa autoria "A INFLAÇÂO E A DITADURA DOS JUROS" e trazemos aqui os comentários feitos pelos internautas.
No final anexamos uma resposta(perdoem-nos pela extensão da mesma), reafirmando o respeito pelas opiniões de cada um, mesmo quando fomos mais "duros" em alguns comentários.
Obrigado e saibamos todos que quanto mais debate melhor.
Seguem os comentários.
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Francisco de Lima Cavalcanti
6 de julho de 2008 às 16:03
“ou se estabelecendo controle da entrada de capitais para que a moeda local não se valorizasse demais facilitando importações, desequilibrando-se a balança comercial e fazendo com que o país tivesse que aumentar os juros ainda mais para atrairmos dólares ao mercado interno”
Deixa eu ver se entendi, afim de evitar o aumento dos juros em favor da atração de capital especulativo estrangeiro é necessário exatamente impor barreiras para a entrada desse capital especulativo estrangeiro?
Nossa, que asneira.
José Policarpo Jr.
6 de julho de 2008 às 16:14
OK, Paulo Rubem. Bom artigo.
Seria interessante, entretanto, saber que medidas concretas poderiam ser aplicadas além do aumento de juros. De fato, não gosto do aumento de juros; todavia, fico às vezes desconfiado quanto a diversas saídas heterodoxas que o Brasil, como você certamente sabe, já adotou no passado e nenhuma delas foi feliz no controle inflacionário.
Creio que em alguns setores da esquerda mais responsável (na qual o incluo) a idéia de que o controle da inflação seja um patrimônio da nação já foi plenamente assimilada, ao contrário de segmentos de esquerda que lutam para extinguir o capitalismo (como Psol e Pstu), e não para regulá-lo e controlá-lo dentro de determinadas margens. Assim, seria bom de fato visualizar medidas concretas e alternativas que não pusessem em risco o controle da inflação, nem mesmo sob a perspectiva de maior crescimento ou maior desenvolvimento dos programas sociais. Todos nós já somos bem crescidos para lembrar que a inflação é um mal que corrói todo o ambiente (social, econômico, político, cultural) e a maior conta é paga justamente pelos mais pobres.
andrei barros correia
6 de julho de 2008 às 16:39
Esse assunto demanda muito cuidado, para não parecer discurso ideológico partidário ou simples panfleto.
O que acho interessante na opinião do deputado Paulo Rubem - e já disse em outra oportunidade - é que juros remuneratórios de títulos públicos não são o único remédio ou instrumento disponível, embora sejam um dos instrumentos.
Instalou-se uma certa idéia fixa acerca do assunto. Hoje, é heresia cogitar-se de outros instrumentos ou de outro viés de política monetária. Instalou-se uma espécie de pensamento único.
São interessantes as considerações de Delfim Netto sobre esse assunto. Esclareço que não sou admirador dele, mas lembro que ele não é exatamente um esquerdista, nem propriamente um heterodoxo.
O deputado está certo ao apontar que as pressões inflacionárias não são doença de uma causa só. Portanto, pensar em um só remédio pode matar o paciente.
Simonsen dizia que uma crise inflacionária pode aleijar, mas uma crise cambial mata.
Luiz
6 de julho de 2008 às 16:52
Pierre,
gostaria de saber sua opinião sobre receitas também adotadas em outros países, tais como:
a. contenção dos gastos públicos, que no Brasil crescem em ritmo mais de duas vezes superior ao PIB.
b. redução de impostos, sendo a carga tributária do Brasil considerada internacionalmente uma verdadeira aberração, na comparação de países com a mesma faixa de renda per-capita.
c. redução de tarifas à importação, que ainda tornam o Brasil um dos países relativamente fechados ao comércio internacional.
Já quanto aos elogios aos novos ícones do pensamento econômico nacional, faltou incluir o brilhante Ministro Mantega nessa constelação. Por que não?
Carlos Augusto Pereira
6 de julho de 2008 às 22:18
Ótimo artigo, Paulo Rubem,
Acho que, junto com o erro, da equipe econômica, de querer reprimir a demanda com aumento nas taxas de juros e o conseqüente aumento da dívida, existe o interesse das elites em criar condições para o aumento dos preços.
Os filiados a ANJ e a mídia eletônica resolveram pautar a inflação. “Falam” em uníssono. Discutem a inflação pela inflação, apenas para desgastar o governo e garantir vitória nas eleições para os conservadores.
Não há crítica pelo aumento do endividamento interno. No fundo aprovam as medidas do governo quando este resolve aumentar a taxa selic. São porta vozes dos rentistas.
O que precisamos mesmo é aumentar a produção, estimular o aumento do mercado consumidor interno e reduzir a dependência do País do consumo externo, como já vem acontecendo com a entrada em cena de novos atores, antes sem poder de compra. Com a inflação perto do centro da meta não vejo porquê conter o consumo aumentando a taxa básica de juros.
Medidas outras que o governo toma podem ter melhores efeitos.
Paulo Rubem, quero saber sua opinião sobre o contrôle da remessa de lucros e a taxação sobre grandes fortunas. Para uma nação que incrementa o desenvolvimento não seriam essas algumas formas de aumentar a poupança interna e reduzir a depedência de capitais especulativos?
Para um debate de nível é bom que se evitem adjetivos depreciativas. A discordância é democrática mas pode e deve ser respeitosa.
Quanto à contenção de gastos públicos penso que toda vez que se fala nela é para evitar investimentos sociais. Não, ví nem ouví, os comentaristas econômicos, instalados nos grandes meios de comunicação, tratarem seriamente do aumento do endividamento interno com o pagamento do serviço e rolagem de dívidas.
Tiago Cavalcanti
7 de julho de 2008 às 8:49
Prezado deputado,
É importante deixar claro ao leitor, que o único instrumento que o Banco Central têm para combater a inflação é a taxa de juros. O compulsório, que também poderia ser mudado, jé é muito elevado no Brasil. Portanto, deixe claro, de uma vez por todas, que o Banco Central só tem esse instrumento. Ou então, avise aos economistas que estão lhe aconselhando. Se o governo quiser usar outro instrumento, tem que avisar ao Banco Central.
Outro ponto que é importante avisar ao deputado é que a taxa de juros já foi 26% no início do governo Lula e hoje a mesma está em aproximadamente 12%. Além disso, o sistema de metas de inflação é usado por vários países: Na área do Euro, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Brasil, entre outros. Faço a pergunta ao deputado: Devemos abandonar este sistema?
Finalmente, qual é a sugestão prática do deputado? Controlar preços? Por favor, isso só funciona no curto prazo. Ver o caso da Argentina. Controle de preços causa escassez ou incentiva o mercado negro. Ou o deputado gostaria de adotar a polítca monetária da Venezuela, com inflação acima de 20% ao ano?
Deputado, política monetária não tem nenhum impacto na economia no longo prazo. O único impacto é o negativo, quando a inflação fica fora de controle. Esse sim que é perverso. Assim, a discussão no Brasil deve se concentrar mais nas políticas de longo prazo: Como melhorar a educação, saúde, proteção ao direito de propriedade, proteção ao meio ambiente, segurança, diminuir o empreguismo no setor público, entre outras.
O mundo passou por um período de aumento de produtividade muito grande nos anos 90 e portanto a inflação ficou baixa na maioria dos países. Agora, com um choque negativo, vamos ver quem vai conseguir controlar a inflação ou não. Entre a ortodoxia do Brasil e a heterodoxia da Argentina, fico com o dever de casa do Brasil.
Fernando Dias
7 de julho de 2008 às 8:52
É realmente de doer. O país nem completou ainda a festa de debutante de seu primeiro período de sensatez em política econômica na história republicana e já querem reeditar a heterodoxia de curto prazo que nos enterrou no subdesenvolvimento durante todo o século XX.
Será que verei o dia em que os “intelectuais” brasileiros (de direita e esquerda) vão deixar de querer reinventar a roda na teoria econômica?
paulo rubem santiago
7 de julho de 2008 às 23:32
Agradeço os comentários, mesmo aqueles que, pelo que me parece, insistem no remédio único das elevadas taxas de juros para se manter a inflação no centro da meta. Bem, asneira não há no artigo mas há certa arrogância intelectual na crítica feita usando-se tal expressão. Ou se desconhece que no 2o. mandato de FHC se elevaram as taxas de juros para atrair mais dólares, entre outras razões ?
Se antes chegamos a 26% nem por isso é lei universal que tenhamos que ainda ter a maior taxa de juros reais do mundo.
O BC não é a única autoridade para implantar medidas na área macroeconômica no País. Certo. Mas assim é fácil. Dê-me uma carga tributária como a nossa e um tesouro sem amarras para pagar juros que eu faço melhor que o Meirelles.
Redução de carga tributária ? Discurso chavão. Inversão da lógica tributária sim, com menos impostos indiretos e regressivos e mais impostos diretos e progressivos. Ah, mais dirão que isso afugenta investimentos.E como são as tabelas do IR nos países da zona do euro ? E não é lá que estão muitas das maiores multis do mundo ?
O certo é que os críticos de nosso artigo parece comungar da opinião de que a inflação vigente é só de demanda.
A quem fala em cortar gastos correntes eu pergunto o que é mais decente e ético, cortar gastos de saúde e educação e deixar livres gastos com a dívida que financia os mais ricos ? Lembro que no País há menos de UM mamógrafo para cada 100.000 habitantes, aparelho essencial para exames preventivos do câncer de mama.
Perdoem-me alguns mas chega-se a um ponto que tudo parece voltar a um certo tecnicismo neutro, claro, desde que os ativos aplicados nos títulos se multipliquem. Assim, se a tutela da dívida sobre o tesouro é inexorável assumam que a democracia vigente é de fachada e o povo barsileiro não deve buscar alternativas à grave sangria das receitas do tesouro para que não se produza nada !
Bem, para quem quer alternativas sugiro, como disse no artigo, a leitura dos trabalhos de Sicsu, De Paula, Ferrari e Arestis.
Bom, isso se pensar for consentido pelos adeptos da ortodoxia monetarista.
Por fim, Policarpo, inflação não é mesmo negócio para ninguém mas mesmo sem ela, os que antes ganhavam mais com ela, hoje ganham com os títulos públicos. Ontem, o estado emitia moeda, há quatorze anos virou contumaz emissor de títulos públicos. Insisto em se trocar a “abreugrafia” que pouco enxerga no pulmão pela ressonância magnética dos novos tempos para se buscar as “n” causas da inflação que nos ronda.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
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Um comentário:
Paulo
Preparei para amanhã alguns posts sobre o tamanho da dívida pública.
Obrigado pelo texto, sua presença no blog só engrandece.
Em tempo, os comentários foram feitos por pessoas de alto nível, em sua maioria.
Tiago é professor de economia da Universidade de Cambridge, Fernando e Policarpo são da UFPE. Andrei é procurador federal.
Abraço e boa sorte
Pierre Lucena
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