sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Lula cobra mapeamento de dívidas privadas em dólar

Por Paulo Rubem

Na terça-feira a Câmara realizou Comissão Geral para debater os efeitos da crise financeira mundial no Brasil. Já relatamos o fato aqui e, apenas para ressaltar, solicitamos mais transparência quanto aos números. Agora noticia-se que o Presidente LULA cobra o mapeamento das dívidas privadas.

Veja matéria publicada hoje do Blog do Josias de Souza, da "Folha on-Line".

24/10/2008

Lula cobra mapeamento de dívidas privadas em dólar


Presidente quer saber tamanho da encrenca dos derivativos

Câmara cogita criar comissão para buscar os dados 'in loco'Deseja-se calcular o risco a que os bancos estão 'expostos'


Lula está inquieto com à ausência de informações oficiais conclusivas sobre um problema que chama de “jogatina financeira”.

É como o presidente se refere aos contratos de derivativos firmados pelas empresas com os bancos nas operações de hedge (proteção) cambial.

O que é um derivativo? Como o próprio nome indica, trata-se da negociação de um ativo financeiro que deriva de um outro ativo.

O caso que tira o sono de Lula envolve empréstimos contraídos por exportadores brasileiros para financiar a venda de seus produtos no exterior.

São operações escoradas em papéis chamados de derivativos cambiais. Vencem no futuro, em prazos que variam, normalmente, de um a dois anos.

Mas o preço do dólar foi fixado no momento da celebração do contrato. Daí a suposta proteção às empresas contra variações abruptas na cotação da moeda americana.

Se o dólar fica abaixo da cotação prevista no contrato, além de financiar as suas operações, as empresas lucram na hora de resgatar o empréstimo.

Se o dólar dispara, como acontece agora no Brasil, ganham os bancos. Ao contrair os empréstimos, as empresas apostaram que o dólar ficaria estável, ao redor de R$ 1,80.

O problema é que, com o recrudescimento da crise global, o dólar desembestou. Nesta quinta (23) bateu em R$ 2,50. O Banco Central mostrou os dentes.

Informou ao mercado que está disposto a torrar US$ 50 bilhões para conter o dólar. E a cotação recuou para ainda expressivos R$ 2,30.

É essa oscilação cambial que transforma os derivativos numa espécie de bicho-papão da crise brasileira. Um monstrengo cujo tamanho o governo ainda não conseguiu dimensionar.

Por ora, só o nariz do monstro veio à tona. Mede R$ 5 bilhões. É o tamanho do prejuízo já anunciado pela Sadia, Aracruz Celulose e Votorantim.

Estima-se que, de corpo inteiro, o bicho é muito mais estarrecedor. Autoridades do governo falam em R$ 200 bilhões. Trata-se, porém, de um chute. Chute por baixo.

O que incomoda Lula é justamente o fato de o governo estar trabalhando, por assim dizer, no escuro. O problema, por gigantesco, não afeta apenas as empresas.

Pode comprometer também a saúde das casas bancárias. Por que? Os exportadores saíram da aventura tão encalacrados que podem não ter como saldar os empréstimos.

Alguns deles abriram negociação com os bancos. Outros já batem às portas do Judiciário. Ou seja, os contratos de derivativos podem virar um esqueleto no armário da crise.

Tudo isso num instante em que o governo leva à prateleira duas medidas provisórias –442 e 443—que prevêem o socorro a bancos.

Socorro que virá na forma de empréstimos no redesconto do BC e até por meio da compra de ações de instituições privadas pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

A apreeensão de Lula contagiou o Congresso, obrigado a votar as medidas provisórias. Nesta quinta (24), em meio à atmosfera opaca, lideranças da oposição começaram a costurar a formação de uma Comissão Externa do Legislativo.

Seria suprapartidária. Teria entre sete e nove membros. Sua missão: buscar nos órgãos públicos informações que retirem a venda dos congressistas.

Deve-se a idéia ao líder do PPS, Fernando Coruja (SC). Levou-a ao líder do PSDB, José Aníbal, que endossou o requerimento, a ser apresentado na semana que vem. O DEM também tende a aderir.

Receberiam a visita da comissão, por exemplo, o Banco Central, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o BB e a CEF. “A crise exige ação, não discursos”, justifica Coruja.

Apresentado à sugestão, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, recebeu-a com bons olhos. Disse a Coruja que, caso haja dificuldades para aprovar a comissão externa no plenário, ele próprio, como presidente, poderia adotar a iniciativa.

O diabo é que parte das informações reclamadas pelos deputados não chegou nem mesmo à mesa do presidente da República.

Um pedaço das operações de derivativo cambial foi contratado pelos exportadores brasileiros no exterior, por meio das chamadas off-shore.

São companhias abertas no exterior. Sujeitam-se à legislação local. Que as exime de prestar esclarecimentos ao Banco Central e à CVM.

Numa tentativa de contornar o sigilo, o BC brasileiro decidiu requisitar informações a bancos centrais e órgãos reguladores do estrangeiro.

Ainda que o pedido seja atendido, os procedimentos devem demorar mais do que gostariam Lula e os deputados.

A votação da primeira medida provisória de socorro aos bancos, a 442, está marcada para a próxima terça (28). Chinaglia apressou-se em nomear relator da MP.

Será o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Indicado nesta quinta (23), terá quatro dias, incluindo o final de semana, para redigir o seu relatório.

Um tempo que não parece suficiente nem mesmo para analisar com o zelo devido as mais de 70 emendas que foram apresentadas à medida provisória.

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