domingo, 13 de abril de 2008

DELFIM NETTO : LULA SALVOU O CAPITALISMO



Por Paulo Rubem

O blog transcreve e comenta entrevista publicada pela Revista Eletrônica PODER, de Joyce Pascowitch, na qual no ex-ministro e ex-deputado DELFIM NETTO comenta que LULA "salvou o capitalismo", ao conduzir seu governo pelos caminhos econômico-fiscais que todos conhecemos.
Para compartilhar essa entrevista e fazê-los refletir sobre o que DELFIM afirma, tomamos a liberdade de comentar algumas de suas respostas dadas.
Segue a entrevista, com nossos comentários e observações( destacados em CAIXA ALTA ).

CONSELHEIRO GERAL DA NAÇÃO
por José Roberto de Toledo

Delfim Netto

Às vésperas de completar 80 anos, Antônio Delfim Netto continua trabalhando intensamente naquilo em que se especializou nos últimos 40: influenciar a política econômica nacional e, de quebra, alguns presidentes da República. Como ministro, trabalhou para três, todos da ditadura militar, ou do “regime autoritário”, como prefere dizer. A saber, Costa e Silva, Emílio Médici e João Figueiredo. Extra-oficialmente é difícil precisar quantos requisitaram seus conselhos. A lista é longa e inclui o atual ocupante do Palácio do Planalto. No começo de março, pouco antes de o governo lançar um minipacote para conter a valorização do real, Delfim esteve com Luiz Inácio Lula da Silva e um grupo de economistas. Ele disfarça. Diz que falaram do Corinthians.
De Lula, é só “inteligência privilegiada”, “salvador do capitalismo brasileiro”, “Darwin andando”. São alguns dos epítetos que lançou sobre o atual presidente. Já em relação ao antecessor, que conhece há meio século, Delfim exercita sua capacidade ofídica. “O tempo que (Fernando Henrique Cardoso) poderia ter aproveitado para fazer o desenvolvimento, ele aproveitou para se reeleger. E o que é pior: pra nada. Porque o segundo mandato foi mais lamentável que o primeiro.”
Paradoxos marcam a oitava década de vida de Delfim. O corpo em formato de pêra, as mãos bem cuidadas, o cabelo retinto, o bom humor e o estrabismo são os mesmos.

Mas o ex-belzebu da esquerda é agora conselheiro de um presidente petista, dá longa entrevista para o blog do Zé Dirceu e chega a elogiar Karl Marx em artigos. Defende, com ênfase, os programas de transferência de renda do governo Lula e afirma que os direitos dos trabalhadores e a defesa do meio ambiente são definitivos. Por essas e outras, diz que o “viés de esquerda”, hoje em dia, virou sinal de trânsito.
Depois de não obter a reeleição para deputado federal, em 2006, poderia se esperar que Delfim, então com 78 anos, rumasse para a aposentadoria. Com um patrimônio declarado de R$ 2,1 milhões (principalmente em imóveis) e o direito a pensões obtido por passar décadas no serviço público, ele poderia confortavelmente se dedicar a ler mais livros de sua lendária biblioteca. Porém, a julgar pelo movimento de carros e pessoas no casarão que sua consultoria, a Idéias, ocupa no bairro do Pacaembu, o trabalho parece ter aumentado e não diminuído.

Ao longo de um mês, Delfim profere pelo menos quatro palestras (a um preço apurado de R$ 10 mil cada), escreve uma porção de artigos, leciona algumas aulas e participa de várias reuniões com clientes e dos muitos conselhos para os quais foi nomeado ao longo da vida. Somam-se, ainda, as dezenas, se não centenas, de telefonemas. O economista está no topo da agenda de muitos colunistas, entre as chamadas “fontes jornalísticas” para os quais se deve ligar todo dia para trocar informações. Sim, trocar: quem dá mais recebe mais; quem não sabe nada, leva no máximo uma frase de efeito.

À revista PODER, Delfim falou por 52 minutos, no dia 18 de março, sobre o crescimento da economia brasileira e o impacto da crise nos Estados Unidos, sobre a eleição e os presidenciáveis para 2010, comparou governos e presidentes e até contou o que faz (e o que não) com seu dinheiro. Para facilitar a compreensão, a entrevista foi editada.

LULA

Ele tem uma inteligência absolutamente privilegiada. Eu acho que o Lula salvou o capitalismo brasileiro. Os economistas têm um vício terrível, de ignorar a distribuição de renda. O capitalismo é uma competição, uma guerra. O que você exige de mínimo para uma corrida ser honesta? Que todos tenham duas pernas. Construir um mecanismo que aumente a igualdade de oportunidades (programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família) é fundamental para dar moralidade ao capitalismo. Se você não combinar esse sistema com o sufrágio universal, com a urna, termina muito mal.
O Lula conseguiu um fato elementar: aumentar a igualdade de oportunidades. É preciso que todos tenham a mesma oportunidade, senão vamos criar dois países. Isso não é garantia de resultado: é garantia de honestidade do ponto de partida. O homem é ele e suas circunstâncias, como dizia o nosso companheiro (Ortega y Gasset).
A idéia de que (os programas sociais) é assistencialismo é verdade. Só que é um assistencialismo que está montando uma porta de saída. É um assistencialismo que condiciona a educação, e agora, quando estende para as pessoas de 15 a 17 anos, está tentando colocar essa gente no mercado de trabalho. Há uma mudança de concepção. Essa é que é a contribuição do Lula. O Lula é um sobrevivente. O Lula é o Darwin andando. É um processo da seleção natural mesmo, e com uma vantagem: nunca leu Karl Marx.
Não adianta estar com ilusão: quando você entrega tudo para o economista, faz uma política economicista, sem levar em conta esses aspectos (as desigualdades), vem a urna e corrige. Nem (Hugo) Chávez, nem (Evo) Morales, nem (Rafael) Correa são acidentes. São tentativas de correções. O problema é que o sufrágio universal não garante correções na direção certa.
Quanto ao sucesso econômico, Lula foi muito honesto. A última frase dele é realmente sensacional: “Eu, mais uma mãozinha de Deus…”. E é nessa ordem mesmo.

PARA QUEM ASSISTIU " PASSAGEIRO : PROFISSÃO REPóRTER ", COM JACK NICHOLSON, O EX-MINISTRO BEM MERECERIA SERVIR DE MOTE PARA UM DOCUMENTÁRIO INTITULADO "ECONOMISTA: PROFISSÃO GOVERNO" POIS PARECE BUSCAR O QUE O REDIMIRIA DE MUITAS DAS TESES ADOTADAS AO LONGO DE SUA VIDA PÚBLICA. GOSTO DE LER O QUE DELFIM NETTO ESCREVE,POIS O FAZ SEMPRE COM EVIDENTE CONTEÚDO INFORMATIVO. DESNECESSÁRIO RECONHECER QUE ELE TEM FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO EM ECONOMIA, QUE FAZ O DEBATE COM QUALIDADE, QUE TRANSITA BEM ENTRE REFLEXÕES DA ESQUERDA SOCIALISTA E DA DIREITA DA FEBRABAN,DO FMI E DE OUTROS ENDEREÇOS SOFISTICADOS. PODEMOS POR ISSO DIZER QUE ELE AGE, MUITAS VEZES, COMO SE FOSSE UM BOM MÚSICO, QUE LÊ PARTITURAS DE ROCK E DE BACH, EMBORA NÃO SEJA PRECISO ESCONDER DE QUE LADO DA SOCIEDADE ELE SEMPRE ESTEVE OU EM QUE ORQUESTRA ELE TOCA.

NOS ANOS DA DITADURA ELE SERVIU AO "AUTORITARISMO". NOS ANOS DE DEMOCRACIA ELE CONTINUA SERVINDO AOS MAIS FORTES, ÀQUELES QUE VIVEM DA DÍVIDA PÚBLICA. SE POR ALGUMAS VEZES ESCREVEU ARTIGOS E DEU ENTREVISTAS CRITICANDO AS TAXAS DE JUROS, NÃO MEDIU ESFORÇOS PARA FORÇAR AINDA MAIS O AUMENTO DO SUPERÁVIT PRIMÁRIO EM 2005, PROPONDO MAIS E MAIS CORTES DE GASTOS CORRENTES E OUTROS, PARA QUE TODA A FATURA DE JUROS DA DÍVIDA PUDESSE SER PAGA. PAGA A QUEM ? AOS PARASITAS QUE IMPÕEM A TAXA DE JUROS QUE QUEREM VIA COPOM E BANCO CENTRAL MENSALMENTE, SUGANDO DO TESOURO NACIONAL AS RECEITAS QUE LHES PERMITEM MULTIPLICAR SEUS CAPITAIS, NÃO SE OMITINDO DE FAZER CHANTAGENS ELEITORAIS COMO EM 2002 OU EM OUTROS MOMENTOS, CASO SEUS INTERESSES SEJAM CONFRONTADOS COM POLÍTICAS ALTERNATIVAS À ORTODOXIA MONETARISTA.

POR QUE MUITOS TÊM COMO GURU, CONSELHEIRO OU REFERÊNCIA SÓ ELES MESMOS PODEM EXPLICAR OU TALVEZ NEM SEJA PRECISO. AFINAL, PAGANDO-SE A FORTUNA QUE O GOVERNO LULA PAGOU DESDE QUE ASSUMIU O PAÍS, EM JUROS E PARCELAS DA IRRETOCÁVEL E SAGRADA DÍVIDA PÚBLICA, ATRAVESSANDO ANOS E ANOS DE BAIXO CRESCIMENTO E SEGUINDO À RISCA A RECEITA DE ELEVADAS TAXAS DE JUROS,UM DIA O PACIENTE( A ECONOMIA DO PAÍS ) TEM QUE PARAR DE EMAGRECER E VOLTAR A COMER, A CRESCER, SENÃO ...

NÃO SE TRATA DE SALVAR OU NÃO O CAPITALISMO. TRATA-SE DE RECONHECER QUE ENQUANTO LULA "AUMENTA AS OPORTUNIDADES " PARA OS DE BAIXO COM BOLSA-FAMÍLIA , OS GASTOS FEDERAIS COM SAÚDE, EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA E COMBATE À POBREZA REPRESENTAM 9,56% DO ORÇAMENTO FEDERAL DE 2008. POR OUTRO LADO OS GASTOS COM OS MAIS RICOS, COM JUROS E AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA, REPRESENTAM 47,65% DESSE MESMO TESOURO NO ORÇAMENTO DE 2008.

FHC e a POLÍTICA ECONÔMICA


O país estava falido em 2002. Fernando Henrique entregou o país com a inflação rodando a 30% (ao ano), com as exportações crescendo a 4,5% (ao ano), com a dívida externa crescendo a 6,5% (ao ano), e US$ 17 bilhões de reservas. Tanto que para o Fernando iria ser “Lula, o Breve”: em seis meses ia ter inflação em 100%, ele ia ter de voltar ao Fundo Monetário, e o Fernando ia ser chamado de volta para salvar o Brasil. O que aconteceu de 2002 para 2003? Durante oito anos de Fernando, a exportação cresceu 4,5%, no primeiro ano Lula, cresceu 22%. Houve uma explosão no mundo, houve o aparecimento da China, da Índia… Essa é que é a “mãozinha de Deus”. E hoje você está em uma situação de bonança que é quase inacreditável. Você está com reservas de US$ 193 bilhões, está com as exportações crescendo de 17% a 18% (ao ano), felizmente as importações estão crescendo a 45%, de tal forma que esse superávit comercial vai diminuir mesmo. O que melhorou, na verdade, foi isso, o resto não mudou nada. Nem sequer a política cambial é melhor do que a anterior. Foram três coisas:
1) Primeiro, foi essa atitude de reconhecer que existe um negócio que nós temos de mudar; ainda que não vá poder dar, com a velocidade que se quer, a igualdade de oportunidades, as pessoas têm de ter a consciência de que está caminhando nessa direção, que é pra aceitar a política econômica. (No governo Fernando Henrique) não tinha sequer a concepção, era um negócio de atender pobre, pobre que o próprio governo estava construindo com uma política econômica devastadora;
2) Segundo, foi a “mãozinha de Deus”;
3) Terceiro, foi o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); o PAC colocou outra vez na mesa o problema do desenvolvimento. Fazia praticamente 20 anos que ninguém falava em desenvolvimento; o PAC aumentou o investimento público. Não é apenas o governo federal: o Aécio (Neves) está fazendo a mesma coisa, o (José) Serra está fazendo a mesma coisa. As pessoas não estão entendendo que está havendo um aumento do investimento público em infra-estrutura, e o efeito multiplicador do investimento público é muito importante.
O Fernando gastou um tempo imenso na reeleição (para aprovar a emenda constitucional) e com métodos heterodoxos. O tempo que ele poderia ter aproveitado para fazer o desenvolvimento, ele aproveitou para se reeleger. E o que é pior: pra nada. Porque o segundo mandato foi mais lamentável que o primeiro. Ele fez algumas coisas que foram importantes. A contribuição, talvez, mais importante foi a ordem nas finanças estaduais – é claro que ninguém passa oito anos sem fazer alguma coisa, seria um escândalo maior do que foi.


É ENGRAÇADO QUE NOS ANOS DE FHC NINGUÉM VIU DELFIM NETTO LIDERAR QUALQUER MANIFESTAÇÃO OU BANCADA NA CAMARA FEDERAL CONTRÁRIA AO DESMONTE GRACIOSO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO, NEM SEQUER OUVIU-SE DELE QUALQUER PLANO ALTERNATIVO À MALUQUICE MONETARISTA E CAMBIAL DE FHC

ORA, PARA SE FALAR DE QUE É PRECISO ACEITAR A ECONOMIA, QUEM DEVE ACEITAR QUAL ECONOMIA ?
A MAIORIA DA SOCIEDADE DEVE ACEITAR PAGAR IMPOSTOS NA MAIS ELEVADA CARGA TRIBUTÁRIA PARA SE REMUNERAR OS MAIS RICOS EM PRIMEIRO LUGAR OU OS MAIS RICOS DEVEM SER TRIBUTADOS PARA SE GERAR EMPREGO, DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA SOCIAL PARA A MAIORIA EM PRIMEIRO LUGAR NA ORDEM DOS GASTOS PÚBLICOS DO TESOURO ?

O PAC TEM BOA INICIATIVA MAS É RIDÍCULO COMO PROJETO DE INVESTIMENTOS, REFÉM DOS INTERESSES FINANCISTAS DOS QUE TUTELAM O TESOURO NACIONAL À SERVIÇO DA REMUNERAÇÃO DE SEUS ATIVOS. PARA SE TER UMA IDÉIA, TODO O PAC PARA OBRAS DE INFRA-ESTRUTURA EM 2008 TERÁ QUASE 15 VEZES MENOS RECURSOS QUE O QUE ESTÁ RESERVADO NO ORÇAMENTO DESSE ANO SÓ PARA JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA.

strong>2010 e o CRESCIMENTO DA ECONOMIA

Desde os anos 40 estudos empíricos mostram o seguinte: o fator mais importante na eleição é o fator econômico. O presidente (Lula) terá uma importância muito grande na eleição. Se ele vai eleger (o sucessor), não sei. Mas ele vai ter uma importância muito grande se o Brasil continuar crescendo 5% a 6% ao ano, como tudo indica que vai continuar. Quais são os dois fatores que podem abortar o crescimento? É a crise energética e a crise em contas correntes. Os dois fatores, na minha opinião, estão mais ou menos resolvidos. Mesmo com a crise americana, você tem US$ 193 bilhões de reservas, e isso permite quatro anos de besteiras, que é o tempo pra comer isso, ou permite quatro anos de uma política melhor do que a atual.

(Quanto à) crise energética, a mãozinha de Deus deu mais uma ajudada (voltou a chover), o que prova que a nacionalidade dele é correta. Em menos de 12 meses, ele provou três vezes a sua preferência: com (os campos de petróleo de) Tupi, Júpiter e água. Em 2009, eu acho que você não terá mais surpresas porque o governo levou um susto dos diabos. Você poderia ter um problema de gás, porque a Petrobras é a única empresa em estado quântico, ela pode vender a mesma molécula para dois sujeitos, garantindo que vai entregar (em referência ao gás combustível prometido aos taxistas). Mas hoje os tais navios de gás liquefeito estarão no Brasil antes do fim do ano, 2009 eu acho que está superado. Co-geração vai ter um papel importantíssimo, o governo acordou, está deixando o pessoal do bagaço (de cana) entrar direto na linha, você tem aí guardados 3 mil a 4 mil megawatts que podem ser utilizados.

OS PRESIDENCIÁVEIS

Você tem o Ciro (Gomes), você tem o Serra, você tem o Aécio, você tem a Dilma (Rousseff), você tem o Patrus Ananias.

Dilma é, na minha opinião, a mais eficiente ministra do governo. Ela mostrou que tem uma capacidade administrativa muito grande. E mostrou mais: se livrou do viés que teve no passado. Era um viés antiprivatista, e com uma certa razão. Há uma assimetria de informação, o sujeito que vai disputar uma concorrência sabe muito mais do que o governo sobre a concorrência, e o que é pior, ele não conta para o governo; e segundo, você não tinha mecanismos de proteger o consumidor. A concorrência dos sete trechos das estradas federais fez cair a ficha: existem mecanismos de leilão desenvolvidos pelos economistas que tornam possível reduzir essa assimetria de informação, obrigam o sujeito a contar o que ele sabe e ainda protegem o consumidor. Esta é a grande revolução do governo, é a grande mudança do governo Lula do segundo mandato. Está trazendo os investimentos privados. Não estão acontecendo na velocidade que a gente gostaria porque não há projeto.
O Patrus é o outro lado, do aumento da igualdade de oportunidades. O governo dispõe de dois vetores, mas muito menos visíveis que os dois vetores da oposição.
Aécio e Serra estão fazendo uma administração de muito boa qualidade, os dois estão procurando enfrentar os problemas. Mas São Paulo tem muito mais problemas. Esse problema do trânsito de São Paulo, por exemplo, é uma tragédia e vai desabar em cima do governo, queira ou não queira, não tem como fugir dele. O Serra está fazendo um bom governo. O Aécio está fazendo um bom governo. Agora, o PSDB é uma coisa insondável.
O Ciro corre por fora. O Ciro tem um recall. Tem algumas idéias com um certo charme, tem algumas outras com menos charme, mas eu acho que ele está posto. O Ciro não é um azarão, o Ciro é uma coisa estranha, de vez em quando ele tropeça nele mesmo. Se não tropeçar nele mesmo, a coisa do Ciro é muito mais séria do que parece. Ele tem uma mensagem que fala à sociedade.
A Dilma nunca foi submetida a uma eleição. O Jânio (Quadros) me dizia: “Delfim, ganha a eleição quem foi mais ouvido”. Pega o Mitterand: uma vez, duas vezes, três vezes, na quarta vez se elege. É por acumulação. O tal recall é uma somatória de recalls (de várias eleições). Aqui você tem dois que têm um recall enorme, o Serra e o Aécio estão colocados aí há oito, 12 anos. Foram submetidos a duas, três eleições. Essa acumulação persiste. Eu acho que eles têm essa vantagem. No governo, o Patrus tem um recall local, não tem um recall nacional. Ele leva certamente uma desvantagem nesse processo. Mas tem uma vantagem, que é o carro com o motor funcionando que poderá movê-lo.

O BRASIL NO MUNDO

Eu acho que o Brasil tem todas as condições de continuar crescendo entre 5% e 6% ao ano, porque os fatores que abortam o crescimento não vão aparecer. O Brasil poderá ter muitas surpresas, mas eu acho que o Lula está prevenindo a maior de todas as surpresas, que é a eventual queda dos preços dos produtos agrícolas e minerais que são exportados. Esse programa exportador industrial que está sendo montado pelo Miguel Jorge (ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) se destina a começar a construir de novo um setor exportador industrial enérgico.
A hipótese da OMC (Organização Mundial do Comércio) é a mais indecente de todas: “Para o Brasil, a agricultura e o minério, para a Índia, os serviços, e para a China, a indústria”. Banana pra eles! Nós vamos ter, daqui a 25 anos, de 240 a 250 milhões de habitantes, teremos de dar emprego para 140 milhões de brasileiros entre 15 e 65 anos, ninguém vai fazer isso com exportação agrícola e mineral. Nós somos vítimas de um complexo malthusiano. O progresso tecnológico nesses dois setores economiza mão-de-obra e economiza terra.
A hipótese da OMC (Organização Mundial do Comércio) é a mais indecente de todas: “Para o Brasil, a agricultura e o minério, para a Índia, os serviços, e para a China, a indústria”. Banana pra eles! Nós vamos ter, daqui a 25 anos, de 240 a 250 milhões de habitantes, teremos de dar emprego para 140 milhões de brasileiros entre 15 e 65 anos, ninguém vai fazer isso com exportação agrícola e mineral. Nós somos vítimas de um complexo malthusiano. O progresso tecnológico nesses dois setores economiza mão-de-obra e economiza terra.


PARA NÃO GASTAR TEMPO E TECLADO, SUGIRO PARA UMA MELHOR COMPREENSÃO DA INSERÇÃO DO BRASIL E DA AMÉRICA LATINA NO MUNDO, A LEITURA DE " A SUPREMACIA DOS MERCADOS E A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO LULA", ORGANIZADO POR RICARDO CARNEIRO, DE 2006, PUBLICADO PELA EDITORA UNESP, COM DIVERSOS CAPÍTULOS E AUTORES, ALGUNS DOS QUAIS SOBRE INSERÇÃO NA ECONOMIA MUNDIAL. É DE DAR DÓ.

NO MAIS, TANTOS FORAM AS BENESSES FISCAIS CONCEDIDAS AOS EMPRESÁRIOS NOS ÚLTIMOS ANOS QUE DÁ PARA DESCONFIAR QUE VEM MAIS VANTAGENS POR AÍ, NESSE PROGRAMA DE APOIO INDUSTRIAL E ÀS EXPORTAÇÕES.

POR FIM, SERIA DIDÁTICO E REVELADOR EXPLICAR AO PAÍS COMO FORAM FORMADAS AS RESERVAS DE QUASE R$ 200 BILHÕES DE DÓLARES. O QUE É DÓLAR FRUTO DE EXPORTAÇÕES, O QUE DÓLAR FRUTO DE APROVEITAMENTO EXTERNO DE NOSSAS ELEVADAS TAXAS DE JUROS E O QUE ACONTECE QUANDO O BC COMPRA DÓLARES NO MERCADO. PARA CHEGARMOS A ESSAS RESERVAS E PARA "ZERARMOS "( ? ) A DÍVIDA EXTERNA, EM QUANTO SUBIMOS A DÍVIDA INTERNA ?
DIREITOS ADQUIRIDOS

Hoje, duas coisas são conquistas: a defesa do meio ambiente pode até ser exagerada, mas é um negócio definitivo. Eu, quando era moleque nas ruas do Cambuci, matava passarinho e comia o passarinho. Hoje, qualquer criança, se você contar isso, tem de ir para um psiquiatra. E a segunda é que não tem mais jeito de você retirar direito dos trabalhadores. Você tem de permitir que eles negociem os seus direitos, sob a proteção da lei. O Brasil conseguiu isso com o velho jeitinho. Tudo no Brasil é negociável. Você vai para a Justiça do Trabalho e negocia tudo. É por isso que o Brasil tem um sistema muito mais flexível do que parece.

REAL X DÓLAR

Perguntaram para ele (Warren Buffett): “Como você ganhou US$ 100 milhões com o real?” E ele: “É que tem uns idiotas lá embaixo (no Brasil)”. Esse é um problema que vem desde o primeiro mandato do Fernando Henrique, que teve de fazer 22% de juro real durante quatro anos para manter o real valorizado. Qual a razão de pagar essa taxa de juros? “Ah, se não pagar esses juros os bancos brasileiros não financiam (a dívida pública)”. Vão aplicar onde? Vão ter de aplicar no setor privado a taxas ainda mais baixas. Tudo isso é uma das maiores mistificações em nome da ciência econômica já construídas.

APLICANDO DINHEIRO

Eu nunca comprei uma ação. Eu não tenho nenhuma atração por ações. Eu reconheço que, no longo prazo, a bolsa é a melhor aplicação. Você tem uns 100 anos de experiência bem registrada mostrando que a bolsa dá uns 3% real acima dos outros investimentos no longo prazo. Quem aplica em bolsa tem de estudar, tem de prestar atenção. Quem não tem tempo pra isso é melhor comprar um “fundinho” (cotas de fundo de investimento).

É, ELE NÃO COMPRA AÇÕES MAS INVESTE EM FUNDOS DE INVESTIMENTOS. MUITOS DESSES FUNDOS APLICAM EM TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA, TENDO O TESOURO NACIONAL COMO GARANTIDOR DO RISCO ZERO DESSE TIPO DE NEGÓCIO. ALIÁS, O TESOURO NÃO GARANTE NADA A NINGUÉM, O QUE GARANTE O RISCO ZERO É A CARGA TRIBUTÁRIA E AS ELEVADAS RECEITAS RETIRADAS DA SOCIEDADE PARA O TESOURO NACIONAL, POR MEIO DOS IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES.

LEITURAS

Entender o mundo de hoje, pra mim, é procurar entender como ele funciona economicamente. Não creio que haja algum livro-chave hoje em dia para isso. Dos livros do passado, eu diria que está tudo em Adam Smith, desde que você leia os dois: Teoria dos Sentimentos Morais e A Riqueza das Nações. Está tudo lá. No Adam Smith o agente era um agente moral. Ele inventou um observador que era uma coisa interna do sujeito, ele tinha uma moralidade implícita, como se fosse um imperativo categórico. O observador invisível estava dentro de você. A nossa crise é produto da imoralidade de funcionamento do sistema. O sistema financeiro nasceu para servir a economia real, mas ele se apropriou da economia real. Qual é a única regra moral do sistema financeiro? O maior lucro possível, no menor tempo possível, para obter o maior bônus possível e correr para aplicar em papéis do Tesouro americano.

BEM, PARA OBSERVAR CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEITURA COMO FERRAMENTA DE COMPREENSÃO DO MUNDO PREFERIMOS FICAR COM PAULO FREITE DO QUE COM DELFIM. QUESTÃO DE OPÇÃO, DE LADO.
ALÉM DO MAIS, É ESTRANHO QUE DELFIM AGORA VENHA A FALAR DA ÚNICA REGRA MORAL DP SISTEMA FINANCEIRO. NÃO FOI ELE MESMO QUEM QUIS EM 2005 APERTAR AINDA MAIS O CINTO DOS GASTOS PÚBLICOS PARA PAGAR TODOS OS JUROS DEVIDOS A CADA VENCIMENTO E ASSIM SE OBTER O AVAL DO MERCADO PARA TAXAS DE JUROS MAIS BAIXAS QUANDO DA RENEGOCIAÇÃO DOS TÍTULOS QUE AINDA ESTARIAM POR SE VENCER ?

É BOM LER SEMPRE DELFIM, ATÉ PARA SABERMOS COMO ALGUNS DE NOSSOS ECONOMISTAS SE ESPECIALIZAM EM EXPOR DETERMINADAS FACES SEM, CONTUDO, EXPOREM, DE FATO, OS VERDADEIROS INTERESSES QUE DEFENDEM, EM PRIMEIRO LUGAR, NESSE MUNDO DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS.



Um comentário:

Rodolfo Cabral disse...

Comentários interessantes Paulo. Fico impressionado quando leio pessoas esclarecidas escrevendo que Delfim é hoje um economista de esquerda.

Tenho interesse em estudar a questão dos fundos de pensão no Brasil hoje. Não temos muitas informações sobre o assunto, e em outras matérias percebemos o grande poder que esses fundos exercem na economia nacional - destaco a relação com a Vale e com as empresas de telefonia, e suas diversas disputas com o Daniel Dantas. Seria interessante você pautar essa questão aqui no blog ou na próxima clipagem do "economia em debate".

Abraço e boa sorte no julgamento hoje.

Rodolfo Cabral