quarta-feira, 4 de março de 2009
Ipea sugere redução gradual da taxa Selic em 2009
Na foto, João Sicsu, atual Diretor de Política Macroeconomica do IPEA.
Do site do IPEA
www.ipea.gov.br
Corte de 5,75 p.p. na próxima reunião do Copom economizaria R$ 43 bilhões
"É possível enfrentar a crise de uma forma contundente, fazendo algo que o mundo inteiro está fazendo: reduzindo a taxa de juros." A afirmação foi feita pelo diretor da Diretoria de Estudos Macroeconômicos (Dimac) do Ipea, João Sicsú, ao apresentar hoje, em Brasília, a nota técnica "A gravidade da crise e a despesa de juro do governo"
Produzida pela Dimac, a nota aponta uma esperada queda de arrecadação em 2009 e sugere que "a melhor política é cortar as despesas com juros, que remunera o carregamento da dívida pública". A redução da taxa básica de juros em 2009 traria economia de recursos públicos.
O documento analisa as expectativas empresariais de investimento diante da crise, além de apresentar projeções de economia fiscal em simulações para diferentes cenários de redução da taxa de juros.
"Cortar gastos sociais, correntes, ou de investimento significa reduzir a demanda da economia e as possibilidades de crescimento. Com menor crescimento, haverá menos arrecadação. Portanto, cortar gastos públicos cujos multiplicadores de renda e emprego são relevantes significa ampliar as dificuldades de arrecadação, criar um problema fiscal e aprofundar a crise de demanda que se instalou no setor privado da economia", alerta João Sicsú.
Segundo o técnico do Ipea Roberto Messenberg, é possível enfrentar a crise mantendo ou ampliando os gastos do governo, sem desorganizar as finanças públicas.
"Basta reduzir um ponto percentual na taxa Selic em cada uma das próximas reuniões ordinárias do Comitê de Política Monetária (Copom) e uma redução de 0,75 p.p. na reunião seguinte", diz. Essas reduções, do patamar atual de 12,75% para 7% ao ano, economizariam R$ 30 bilhões.
"Se esta redução de 5,75 p.p. ocorresse já na próxima reunião do Copom, a economia fiscal em 2009 seria de R$ 43 bilhões", afirma.
Segundo a nota, a explicação mais plausível para a crise gravíssima da economia brasileira parece ser que os agentes econômicos estão apreensivos e, em conseqüência, tomam a decisão mais racional do ponto de vista individual: reduzem, de forma drástica, seus gastos. Por um lado, os empresários "engavetam" projetos de investimento, reduzem custos e volume de produção; por outro, os trabalhadores, temendo o desemprego, reduzem seu consumo para formar poupança motivada pela precaução.
"Nesse modelo, as "profecias" se auto-realizam", lamenta Sicsú. Em outras palavras, na expectativa de futuro adverso, diminuem-se os gastos no presente e o futuro, de fato, se torna ruim.
O documento defende que "a reação a partir da demanda governamental é o único instrumento de combate à crise que pode ser utilizado". Mas adverte que o aumento do gasto público não é suficiente: "o gasto público deve ser ampliado com o objetivo de mudar o quadro expectacional e, por conseguinte, estimular o gasto privado".
Segundo o Ipea, o governo tem condições orçamentárias para enfrentar a crise. A situação fiscal brasileira encontra-se muito bem equacionada. Em 2008, o déficit nominal do orçamento federal foi de apenas 1,53% do Produto Interno Bruto (PIB). A relação dívida líquida/PIB descreve uma trajetória muito favorável, tendo atingido, em janeiro, 36,6%.
O documento mostra, então, que a política ideal para enfrentar a crise, do ponto de vista fiscal, é combinar a redução da taxa de juro Selic com a ampliação dos gastos sociais e dos gastos de investimentos.
A nota contou com a participação de diversos técnicos do Ipea, entre eles André de Melo Modenesi, Anna Carolina Saba dos Reis, Claudio Hamilton dos Santos, Denise Gentil, Félix Manhiça, Marcos Vinícius Leite, Mario Rubens de Mello Neto, Miguel Bruno, Renaut Michel, Roberto Messenberg e Salvador Werneck Vianna.
Comentário do Blog
Concordamos integralmente com a sugestão do IPEA , que representa, na verdade, uma autêntica inversão de prioridades na orientação do gasto público.
A proposta reorienta a política monetária de modo a fazê-la provocar efeitos na recuperação da economia e do investimento, e não apenas deixá-la em ação para se manter a inflação dentro das metas estipuladas na lei das Diretrizes Orçamentárias, sem haver preocupação com emprego e crescimento econômio.
Essa posição do IPEA é a que sempre defendemos desde 2003.
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