sexta-feira, 13 de junho de 2008

CARROS NOVOS, MAIS EMPREGOS E CIDADES POLUÍDAS



Por PAULO RUBEM

Invasão de ofertas.
Todo domingo é assim.
Você abre o jornal e lá estão, nas páginas centrais, as grandes ofertas das concessionárias de veículos para lhe seduzir. Carros novos, zerinhos, financiados em até 72 meses. Os juros, bem, os juros lhe são comunicados apenas nas taxas mensais, para não lhe espantar pois se você souber em quanto dá o total de juros cobrados nos 72 meses de financiamento você verá que daria para comprar um carro e, pelo menos, mais outro usado de menor valor.

O pior não é isso.

Nossas cidades têm sido invadidas por milhares e milhares de carros todos os meses sem que as políticas de transporte público consigam competir com esse mundo de vantagens e facilidades oferecidas pela indústria automobilística e seus
revendedores.

Quais são as consequências ainda não apontadas ?

Além de você se endividar por longo prazo, as cidades vão tendo piorada aceleradamente a qualidade do ar e ndo transporte nos grandes centros urbanos e bairros de maior trânsito de veículos, com os resultaos conhecidos na economia, nos preços e na saúde pública.

Recentemente jornais do sul do País publicaram relatórios tratando da qualidade do ar nas cidades brasileiras, sobretudo nas capitais.

Recife desponta numa situação crítica, aspecto no qual São Paulo é campeão nacional de poluição urbana.

Além desses resultados nefastos, outros se somam ao caos, como as pressões que a crise dos transporte faz nos investimentos das cidades, reclamando mais avenidas, mais viadutos, mais despesas que atenderão, sobretudo, ao transporte individual.

Cidades sustentáveis representam um conflito direto com os paradigmas do capitalismo mundializado. Mais carros, mais consumo,mais mercadorias, independente de seus resultados no equilíbrio de nossas metrópoles.

Na área dos resíduos sólidos é evidente o descompasso entre a necessidade da indústria e do comércio venderem mais e a capacidade das cidades de gerirem a reciclagem e o tratamento desses resíduos.

O prazer de ter na cozinha e na lavanderia de casa ou do apartamento "n" podutos para limpeza e alimentação não é acompanhado pela possibilidade das cidades que mais consomem serem as que gastam de forma mais inteligente seus recursos na coleta do lixo e na reciclagem dos resíduos, até porque se sabe que no meio do pessoal do lixo, via de regra, há os que enlaçam candidatos com vultosas doações de campanha eleitoral para depois buscarem o retorno nos contratos com as prefeituras.

Construir cidades sustentáveis é, sobretudo, construir a pedagogia da divergência com os elevados padrões de consumo e de descarte dos resultados desse consumo.

No Nordeste, onde a incidência de sol é maior que no resto do País durante vários meses do ano, é necessário que se invista na pesquisa e na produção com custos menores, dos equipamentos coletores solares, permitindo a paulatina substituição progressiva da energia elétrica no consumo individual e familiar.

As escolas públicas, que perrmitem maior aproximação dos entes gestores com a sociedade, devem se transformar em pólos de difusão de conhecimentos tendo como tema a construção de cidades mais sustentáveis, permitindo que os cidadãos de hoje e de amanhã possam associar sua representação política à luta pelo direito à cidade de forma mais equilibrada.

Não tenho dados atualizados mas creio que há, na maioria de nossas cidades metropolitanas, mais investimentos em obras físicas voltadas à melhoria do transporte individual do que ao transporte público de massas.Percebe-se, sobretudo, que os acidentes de trânsito são marcados muito mais pela presença de veículos individuais do que dos transportes coletivos, com maior ocorrência de mortes, sequelas e altos custos para o sistema único de saúde ( ver www.datasus.gov.br ).

O mesmo eu registro em relação aos investimentos para a educação ambiental em detrimento dos gastos com o lixo das grandes cidades.

Enfim, as cidades hoje já tão violentas precisam passar por um processo de revisão de seus paradigmas de produção, serviços e de consumo e isso só ocorrerá se os gestores e seus grupos políticos, partidos e coligações, puderem assumir esse desafio de ir na contra-mão das facilidades de hoje que geram imensas difculdades amanhã e depois de amanhã.

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