quinta-feira, 5 de junho de 2008
Salvando o cofrinho do Mantega
O Economista Paulo Rabello de Castro
Por Paulo Rubem
O Blog, com prazer, mais uma vez, como fez semanas atrás, compartilha esse artigo do Prof. Paulo Rabello de Castro, que escreve a cada quinze dias, sempre às quartas-feiras, no Caderno "Dinheiro", do Jornal "Folha de São Paulo".
O artigo que lhes oferecemos foi publicado ontem, 4 de junho.
Mais uma vez percebemos várias identidades entre o que está escrito no mesmo e as opiniões que temos debatido com alguns parlamentares na Câmara Federal, nos últimos dias. Na próxima semana vamos tentar conseguir espaço para falar em plenário sobre o tema do "Fundo Soberano".
Bem, parabéns ao Paulo Rabello de Castro por esse ótimo texto.
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Salvando o cofrinho do Mantega
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A única justificativa para o fundo soberano é determinar seu uso para cobrir os grandes passivos sociais do Brasil
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O FUNDO Soberano do Brasil apresentado pelo ministro Guido Mantega e por ele patrocinado de modo solitário no governo não tem recebido apoio de quase ninguém, entre seus pares, e segue atacado pela academia, do centro à direita e à esquerda.
De fato, o fundo soa como uma idéia algo despropositada num país que ainda cobra juros altos de si mesmo, por sua elevada dívida pública pós-fixada, e que ainda não apresenta equilíbrio fiscal corrente.
Será que há jeito de salvar a idéia generosa do ministro, de fazer uma "poupança de cofrinho"? Um fundo soberano sempre tem por propósito resgatar o país que o organiza de alguma deficiência estrutural (como a água e a educação nos países árabes ou a ciência avançada em Cingapura) ou, ainda, de transferir renda, de modo inteligente, do presente para o futuro -o motivo previdenciário-, como fazem os noruegueses.
Nos países que formaram um fundo soberano de modo sério, alguns conceitos essenciais são sempre respeitados:
1) o fundo tem como destino final dos recursos o povo mesmo, a comunidade como um todo, e não algum segmento especialmente privilegiado pelo governo (indústria, agricultura, exportadores, pessoas pobres ou seja lá quem for), quer dizer, a nação é a proprietária-cotista do fundo;
2) o fundo não brinca com os recursos, nem faz favor de emprestar a ninguém a juros subsidiados, nem perde dinheiro fazendo gracinhas no mercado, porque é ao proprietário-povo que o fundo deve satisfação ao final das suas aplicações;
3) na contabilidade social de longo prazo, a matemática do fundo se resume a acumular recursos hoje e aplicá-los muito bem, a fim de remediar uma deficiência séria, ou um passivo social, do país poupador.
Bingo! Essa é a saída para o fundo do ministro. A única justificativa plausível, o cala-boca aos seus críticos contumazes, é determinar o uso final do fundo soberano para cobrir os grandes passivos sociais do Brasil.
Há vários: o educacional, o ambiental, o imobiliário. Há outro passivo social, o previdenciário, que se avoluma a cada dia, sem nenhuma cobertura e para o qual a norma vigente -artigo 68 da Lei de Responsabilidade Fiscal- já comandou, há sete anos, e sem cumprimento até hoje, que o governo encontrasse fonte adequada de cobertura financeira -ou seja, o INSS precisa ter lastro em recursos, hoje inexistentes. Esse buraco previdenciário custa ao país, por ano, uma vez e meia o valor da rolagem da dívida pública mobiliária.
E seguirá aumentando.
Alguns estudos estimam o passivo previdenciário em cerca de R$ 3 trilhões. Ao criar um fundo soberano tendo como destino os futuros beneficiários da previdência oficial, o governo passará a transformar o atual saco sem fundo do INSS num verdadeiro acumulador de riqueza futura. O fundo abaterá parte da dívida previdenciária das próximas décadas, resgatando o país de uma injustiça flagrante, de haver criado fundos fechados de pensão para certas categorias de empregados do governo (bancários, petroleiros, eletricitários etc.) hoje com perto de R$ 1 trilhão em recursos amealhados, para apenas 3 milhões de pessoas, enquanto os outros 185 milhões não têm nenhuma garantia previdenciária em investimentos constituídos para tal.
Por meio do fundo soberano, a previdência do povão será detentora de cotas de um fundo com lastro num patrimônio acumulado em petróleo, energia, aço, biotecnologia, semicondutores, bancos e universidades. Nesse momento, estará plenamente justificada a idéia do cofrinho de Mantega.
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PAULO RABELLO DE CASTRO , 59, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.
paulo@rcconsultores.com.br
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