domingo, 11 de maio de 2008

A lógica dos fundos soberanos



Por Paulo Rubem

O blog pede licença ao Luis Nassif e compartilha essa interessante matéria publicada por ele, em seu blog, no último dia 9 deste mês.
Boa leitura.

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A lógica dos fundos soberanos
por Blog Luís Nassif última modificação 09/05/2008 10:27
Blog Luís Nassif


Esta semana ganhou destaque a notícia da criação de um “fundo soberano” pelo Brasil. Entenda, inicialmente, o que vem a ser esse fundo.

Os Bancos Centrais costumam manter reservas em dólar (a moeda universal por excelência). Esses dólares são aplicados de acordo com regras rígidas, a maior parte em títulos do Tesouro norte-americano.

Quando o volume de reservas é muito alto – como na China -, ou quando ocorre uma explosão de vendas de produtos primários – como no Chile – são constituídos “fundos soberanos”, com flexibilidade para aplicar os recursos.

O termo “soberano”, significa que pertence ao Estado nacional.

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Em princípio, é importante a criação dos chamados fundos soberanos, por várias razões:

1. Melhoria da rentabilidade das reservas cambiais.

Hoje em dia, os países que acumulam grandes saldos comerciais são obrigados a constituir grandes reservas cambiais para impedir a valorização excessiva da moeda nacional – o que inviabilizaria a indústria local e tornaria o pais refém de desequilíbrio nas contas externas.

Para adquirir os dólares, os BCs emitem títulos públicos. No caso brasileiro, são títulos remunerados pelas mais altas taxas de juros do planeta. Numa ponta, pagam-se esses juros. Na outra, o BC perde com as baixas taxas de remuneração das reservas e com a própria desvalorização do dólar. Transferir parte dos dólares para um fundo que possa investir em ativos mais rentáveis – garantida a segurança do investimento – é boa prática financeira.

2. Investimentos estratégicos no mundo.

A globalização está permitindo a muitos países se colocarem estrategicamente no mundo, através da compra de ativos já existentes. É o caso do fabricante chinês que adquiriu a divisão Thinkpad da IBM, ou das siderúrgicas e frigoríficos brasileiros adquirindo unidades no mundo. É importante, no plano estratégico, ter um fundo que possa garantir essa ampliação – desde que submetida a uma visão estratégica clara.

3. Fundos constituídos por exportação de produtos primários.

A entrada em operação dos novos poços descobertos pela Petrobrás gerará saldos comerciais gigantescos. Se não houver tributação sobre esse excedente, o real se valorizará ainda mais, inviabilizando qualquer veleidade de industrialização brasileira. Então haverá necessidade de criação de tributos futuros, que permitam guardar parte desses recursos.

Quais os riscos desse fundo?

1. As reservas cambiais brasileiras devem ser liquidas – isto é, estarem disponíveis quando investidores quiserem retirar seus dólares do pais. É como o depósito à vista dos bancos. Desde que haja estabilidade no nível dos depósitos, pode-se transformar aquela massa liquida (que pode ser sacada a qualquer momento) em empréstimos de prazos mais longos. A questão é que as contas externas brasileiras começam a entrar no vermelho. Nos próximos dois anos, haverá instabilidade nas contas externas, por conta da deterioração provocada pela valorização do real. Como ficaria, então, o fundo-soberano, precisando liberar os dólares?

2. Critérios de aplicação.

Terá que haver uma política estratégica clara e critérios objetivos de aplicação de recurss, para evitar mau uso e/ou uso político desses recursos.

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