sexta-feira, 2 de maio de 2008

EXPORTADOR PREVÊ TOMBO NO SALDO COMERCIAL



Por Paulo Rubem

"Se reduzir o custo de produção das empresas, o governo ajuda a controlar a inflação. Não existe mais desculpa para não reduzir os juros. O grau de investimento é um atestado de boa saúde financeira do país. Por isso, por que o governo pagaria mais para pegar dinheiro emprestado?"

José Augusto de Castro, Vice-Presidente da Asssociação de Exportadores do Brasil

O Brasil acaba de "receber" de uma agência de classificação de risco internacional a indicação para ser considerado "Grau de Investimento".
Com grau de investimento, a atração de capital estrangeiro deve derrubar ainda mais o dólar e prejudicar embarques, dizem empresas.

O Blog reproduz matéria publicada hoje, 6a.feira, na edição on-line da "Folha de São Paulo".

Na prática, ser visto lá fora como grau de investimento implica em ser considerado um país onde os magnatas da grana disponível no exterior poderão investir no Brasil sabendo que as chances ou os riscos de terem perdas serão escassas e, mesmo, pelo contrário, que aqui ganharão mais que em qualquer outro lugar, como já ocorre quando aplicam nos títulos públicos remunerados com as altas taxas de juros.

Os mais eufóricos comemorarão, os que já ganham bilhões aqui com a dívida pública idem. Um País que em oito anos pagou quase R$ 850 bilhões só de juros, não deveria se embriagar tanto com esse "Grau de Investimento" concedido agora.

Na prática, impostos caríssimos, indiretos(sobre o consumo) e regressivos(mais pesados para quem pode pagar menos e mais suaves para quem tem mais renda e patrimônio)têm sido retirados da sociedade e transferidos aos que vivem da aplicação de suas riquezas nos títulos da dívida pública.

Para maiores informações aqui vão duas sugestões de sites, sendo que a segunda nem mesmo a bancada do PT dava muito valor aos seus estudos, nos tempos que passei como deputado do PT.

1. www.stn.fazenda.gov.br ( acessar sobre dívida pública)
2. www.ptnacamara.org.br (Acesse liderança, assessoria técnica da liderança, economia, orçamento e finanças)

FHC assumiu o País em 1995 com a dívida pública representando quase 33% do PIB. Nos seus oito anos o PIB patinou abaixo de 3% ao ano e ele entregou o governo a LULA com a relação dívida/pib chegando a 59,6%.

Em números, a dívida era em 1995 de R$ 60 bilhões em títulos do tesouro e chegou a R$ 720 bi em 2002.

LULA assumiu em 2003, manteve as taxas de juros elevadas por mais de três anos e meio, já pagou quase R$ 850 bilhões de juros da dívida, e só agora a relação dívida /pib cai próximo a 43%. Em números absolutos, porém, chegamos a R$ 1,5 trilhão de dívida pública.

Por isso é estranho que um País que produz tantas riquezas, recolhe tantos impostos e venha transferindo esse montante líquido de recursos para os mais ricos agora se entusiasme com a possibilidade de receber + investimentos do exterior, por força do " Grau de Investimento" de uma agência de risco, dessas que medem os países pelas chances das classes mais ricas internacionais aplicarem e ganharem ainda mais em cada nação.

Com a palavra, os exportadores, protagonistas centrais da matéria da "Folha de São Paulo" on-line aqui reproduzida.

Boa leitura, boa reflexão, solidariedade na indignação.

Associação de exportadores teme que saldo da balança fique negativo em 2009; empresários iniciam pressão por queda da taxa de juro

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO


Os exportadores brasileiros temem que a provável entrada de mais capital estrangeiro no país, efeito da conquista da posição de país seguro para investimentos pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, possa tornar negativo o saldo da balança comercial brasileira no ano que vem.

"Ser considerado grau de investimento foi ótimo para o Brasil e péssimo para o setor de comércio exterior", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Exportadores do Brasil).

A entrada de mais capital estrangeiro no país resultará na valorização do real em relação ao dólar, o que aumenta a dificuldade para competir no mercado externo. "Essa situação deve se agravar", afirma.

Para a AEB, o saldo da balança comercial brasileira deve chegar a US$ 22 bilhões neste ano, depois de alcançar US$ 46 bilhões em 2006 e US$ 40 bilhões em 2007. "Não me surpreenderia se voltássemos a ter déficit comercial em 2009. Basta que as exportações de commodities caiam", afirma.
"Preocupação com o câmbio existe", diz Cesário Ramalho, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira). Segundo ele, é preciso buscar alguma compensação para uma nova onda de valorização do real. "Teria de ocorrer uma queda de juros imediata", afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).

O agronegócio, que desempenhou papel fundamental para o saldo da balança comercial desde a década passada, "não agüenta pagar a conta sem a redução dos juros", diz Camargo Neto. Mesmo com os preços agropecuários internacionais em alta, o campo enfrenta forte alta dos insumos, sobretudo fertilizantes e combustíveis. "Isso pode resultar em redução de produção à frente."

Balança comercial

O Relatório Focus do Banco Central, que reúne as expectativas de mercado, prevê um saldo de US$ 25 bilhões para a balança comercial neste ano e de US$ 17,5 bilhões em 2009. Para Castro, da AEB, se a entrada de capitais estrangeiros for muito forte, é possível que neste ano o saldo da balança comercial já seja menor do que o previsto.
A provável apreciação do real vai agravar principalmente as exportações de produtos manufaturados, que já estão em queda, afirma Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

"Conquistar grau de investimento é ótimo. Só que as políticas que o governo diz que vai adotar para beneficiar as exportações precisam vir com maior dose", afirma Almeida.

Recuo

No primeiro trimestre deste ano, o volume de exportações de produtos manufaturados caiu 3,8% na comparação com igual período do ano passado. No caso de produtos básicos, a queda foi de 13,2%, e a de semimanufaturados, de 1,7%. Na média, a queda geral nas exportações foi de 6,2% em volume.
"A exportação brasileira está sendo sustentada por preços", diz Almeida. Na média, os embarques, em dólares, subiram 13,8% no primeiro trimestre deste ano ante igual período do ano passado. Os preços aumentaram 21,5% no período.

Para o Iedi e a AEB, o fato de o Brasil ser considerado um país sólido para investimentos é motivo mais do que suficiente para que o governo baixe os juros. "Se reduzir o custo de produção das empresas, o governo ajuda a controlar a inflação. Não existe mais desculpa para não reduzir os juros. O grau de investimento é um atestado de boa saúde financeira do país. Por isso, por que o governo pagaria mais para pegar dinheiro emprestado?", afirma Castro.

José Velloso, vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), diz que o setor conhece bem os efeitos do real sobrevalorizado. A balança comercial do setor fechou 2006 com déficit de US$ 600 milhões e, no ano passado, com US$ 4,2 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, a conta ficou no vermelho em US$ 2,5 bilhões. "Desse jeito, o ano inteiro pode ter déficit de US$ 12 bilhões."
Além da redução dos juros, a Abimaq defende a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para inibir a entrada de capital especulativo.
"A longo prazo, o grau de investimento vai ser ótimo, pela demanda de máquinas que vai criar no país", diz Velloso.

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